A Verdade e o Conforto social
Com mais frequência do que gostaríamos é preciso reconhecer que ocorre uma incompatibilidade entre verdade e conforto social. Conforto social é estar bem com as pessoas com quem nos relacionamos nos diferentes âmbitos de nossa vida, é sentir-se aceito, querido, compreendido, por e com essas pessoas.
Diz a criança de cinco anos de idade para o pai de sua amiguinha: tio, porque você tem esse cheiro tão ruim? Você não tomou banho? E o pai da amiguinha da uma risadinha amarela(porque também não escovou os dentes), muda de assunto, ou faz que não ouviu, e diz ou pensa: crianças!
Normalmente é permitido as crianças, loucos, e todo tipo de bobos da corte, dizerem a verdade nua e crua, porque sua condição os desculpa: eles não sabem o que dizem ou fazem, e o conforto social que realmente importa não se vê abalado significativamente.
Mas se você, pessoa adulta, fizer isso no seu trabalho, na reunião de família, ou mesmo em certas circunstancias com “amigos de verdade”, você pode ser despedido, execrado, excluído do grupo da ocorrência. Porque dependendo da verdade que diz, você estará retirando a almofada do Conforto Social do bumbum das pessoas, e então…dói. Você então, obviamente, se torna o culpado do mal estar desencadeado. Se fizer isso com demasiada frequência, com certeza será, silenciosa ou estrondosamente excluído desse grupo. Mas também tem a possibilidade, dependendo das condições desse determinado grupo social, de se tornar o “autentico”, a voz da verdade de todos que não quer calar, ou seja, um líder revolucionário, de direita, esquerda, centro, alto, baixo, n& atilde;o importa, um líder, aquele que diz o que os outros pensam mas não tem coragem de dizer.
A história está repleta de exemplos de personagens como os citados acima.
O Conforto Social e a “boa educação” andam de mãos dadas. Bom dia, boa tarde, boa noite, por favor, por gentileza, muito grato, obrigado, passe por favor, de nada, as suas ordens, etc. É um meio de se cultivar e preservar o Conforto Social.
Deveríamos portanto considerar a boa educação, o respeito, o trato agradável as pessoas, como algo ruim pelo fato de esconder, abafar, e afastar a verdade das relações humanas?! Porque afinal de contas a verdade é a verdade. É o grande valor que todo ser humano(verdadeiramente humano) busca compreender ou encontrar, pelos caminhos mais diversos e estranhos, consciente e inconscientemente. O próprio Jesus Cristo declarou entre outras coisas: EU SOU A VERDADE. O filho de Deus, sua criação é a verdade. A verdade é toda a criação Divina, compreendida e encontrada por nós ou não. Assim diz o livro, o texto. O que não significa de modo algum, quero deixar bem claro, que eu tenha compreendido ou encontrado a verdade.
Não, definitivamente a educação não é algo ruim, não joga contra a verdade, ao contrario joga a favor da verdade. E falo da educação em seu sentido mais amplo e essencial. Em todos os níveis. A educação dos bons modos, das escolas e universidades, das viagens, das visitas a museus e galerias de arte, das diferentes culturas, das aprendizagens da vida cotidiana e as habilidades de sobrevivência.
Educar é esculpir a pedra bruta da verdade e torná-la parte de nós. Como fazemos com os alimentos: mastigamos, rompemos, diluímos, separamos e assimilamos o que nos fortalece a vida e liberamos o que não nos serve. Educar não é simplesmente ensinar a diferenciar o que é bom do que é ruim, isso qualquer animal sabe, a pessoa realmente educada é aquela capaz de diferenciar o que é melhor naquilo que é bom, e o que é pior naquilo que é ruim, como já disseram sábios da antiguidade.
Educação tem a ver com aprender coisas uteis ao nosso desenvolvimento, e isso tem muitos níveis. Quando a educação começa a evitar, esconder, ou distorcer a verdade, começa também sua própria corrupção e deterioração. A busca e atenção a verdade é o melhor nutriente para a boa educação.
É fundamental também recordar que a verdade nao é algo fácil de se encontrar e perceber. Ela implica muitos níveis de percepção e complexidade. As vezes se apresenta de modo simples e claro, as vezes nao tao simples e claro, outras de modo complexo, e outras, se nao completamente, pelo menos em sua aparência, de modo paradoxal e contraditório.
Fernando Dalgalarrondo
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